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A metade norte do Alentejo (“além do Tejo”) é uma verdadeira jóia medieval, com as suas cidades e vilas fortificadas (Elvas, Estremoz,...) e os seus castelos debruçados de encostas (como em Marvão ou Castelo de Vide). 

Encastrado entre o sul muçulmano e a Espanha, do século XII ao XVII este território foi fundamental, também militarmente, quer para a definição das fronteiras de Portugal, quer para a construção da sua identidade enquanto nação. Bastará para tanto evocar a Ordem religioso-militar dos Hospitalários (depois chamada Ordem de Malta), que tanta importância teve na conquista e defesa do território e de que Crato constituiu sede no país, ou Elvas, praça militar por excelência e com a maior fortificação abaluartada do mundo, em 2012 classificada como Património Mundial pela UNESCO.

O ALTO ALENTEJO

Em termos geográficos, o Alto Alentejo é limitado a leste pela Serra de São Mamede, cadeia de montanhas graníticas com cumes que chegam a atingir os 1000 metros – os mais elevados a sul do Tejo – e de amplas e nobres paisagens entrecortadas por afloramentos de granito, encaixando vinhedos e olivais por entre a maior mancha de sobreiros do mundo. O clima é doce na Primavera, seco no Verão, sumptuoso no Outono e ‘frio’ e chuvoso em Dezembro/Janeiro, o que favorece uma flora e uma fauna particularmente variadas – e, naturalmente, as muitas espécies de aves.

E, no entanto, apesar de uma invulgar combinação de riquezas naturais e patrimoniais, o Alto Alentejo continua, ainda hoje, a ser uma das regiões menos conhecidas e mais selvagens da Península Ibérica – um maravilhoso espaço natural bem longe do turismo de massas, onde se pode descobrir o que há de mais autêntico naquele que é considerado o país com as mais antigas fronteiras da Europa.

Terra rica em oliveiras, com a maior mancha de sobreiros do mundo, o Alto Alentejo permanece, contudo, como uma das regiões menos conhecidas e mais selvagens da Península Ibérica

GASTRONOMIA

Sabores fortes e autênticos estiveram aqui sempre intimamente ligados à terra e ao que ela produz, assentando numa tríade fundamental: o pão, o azeite e as ervas aromáticas, entre as quais o coentro, a salsa, o orégão, o poejo e a hortelã.

No que toca às carnes, o pastoreio é largamente praticado na região. As varas de porcos pretos, de carne incomparável, passeiam pelo montado, floresta de sobreiros e azinheiras, à procura das bolotas que são a sua alimentação exclusiva, o que empresta à charcutaria, realizada segundo os métodos tradicionais de tempero e fumeiro, um gosto único e delicioso. Já no que respeita à criação de gado bovino e ovino, também ela excepcional, vale a pena recordar as diferentes variedades de queijos de ovelha e de cabra, em que o leite é coagulado com flor de cardo selvagem, segundo antiga tradição ibérica.

Quanto às sobremesas, açúcar, ovos, ervas, mas também canela e outras especiarias – cujo comércio e produção, como a do açúcar de cana, se desenvolveram sobretudo na época dos Descobrimento –, constituem os principais ingredientes da maravilhosa pastelaria alto-alentejana. As suas ancestrais receitas, quase sempre de origem conventual e durante séculos mantidas em segredo, são extremamente variadas e envergam os nomes mais imaginativos e evocativos da sua origem, desde toucinho do céu a barriga de freira.

VINHOS DO ALENTEJO

Ainda que os povos que habitavam a região do Alentejo bastante antes da ocupação romana já conhecessem a vinha, foi durante esta que a sua cultura e o fabrico do vinho se generalizaram no Alentejo, a ponto de, dois mil anos mais tarde, serem ainda bem visíveis

as suas marcas, nomeadamente na vinificação em talhas, enormes recipientes de barro cozido impermeabilizados

com uma resina natural (o pez), herdeiros das doria romanas.

Depois de uma história longa e cheia de contrastes, a entrada de Portugal na União Europeia marcou o início de uma nova era para os vinhos alentejanos, trazendo-lhe métodos modernos de produção e vinificação. Hoje, 22 mil hectares de vinha plantada na região geram cerca de 88 milhões de litros de vinho por ano, assegurando a maior parte da produção vinícola em Portugal.

O terroir de Portalegre, capital do Alto Alentejo

Portugal é um dos países do mundo onde se encontram mais castas nativas: perto de 250 espécies.

Durante a primeira metade do século XX, a maior parte das vinhas alentejanas foi arrancada, com vista à transformação do Alentejo em grande região cerealífera.

Porque a terra era demasiado pobre e de difícil acesso, a região de Portalegre escapou ao arranque da vinha. Por esse motivo, podemos hoje aí encontrar uma quantidade apreciável de castas autóctones antigas, algumas com perto de cem anos.

Factores diversos contribuem para fazer deste um terroir único no contexto da produção vinícola do Alentejo ou mesmo de Portugal. A acidez dos solos graníticos é um deles; mas também o cultivo a elevada altitude – algumas vinhas situam-se a quase 800m de altura, contando-se entre as mais altas do país –, o qual faz com que elas se desenvolvam a temperaturas mais baixas e sob precipitação mais frequente que no resto do Alentejo; e, por fim, o modelo de plantação em pequenas parcelas e na encosta da Serra de São Mamede, o que torna impraticável a mecanização do cultivo.

Os melhores vinhos da região revelam, ao mesmo tempo, um carácter forte e subtil. Como bem nos diz Rui Reguinga, enólogo apaixonado pela região, “este terroir, tão especial e tão diferente, é capaz de produzir vinhos elegantes e equilibrados, mais frescos e ligeiros que noutras regiões do Alentejo”.

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